quarta-feira, 15 de maio de 2013

Cap. 3

Capítulo 3

- Então, o que te fez querer esse emprego? 
Passei a mão por meu cabelo, um pouco nervosa, afinal, era meu primeiro emprego em outro país! 
- Bom, eu sou apaixonada por música, tanto por escutar como por cantar, e conheço uma grande variedade de músicas tanto aqui da Inglaterra quanto de outros países. E, sim, eu acho que posso ser muito útil na sua loja se me aceitar. 
- E por que exatamente escolheu nossa loja? 
- Eu soube por uma amiga minha que uma loja de CD's bem famosa estava querendo contratar assistentes e vendedoras, então por que não? 
A mulher de cabelos escuros e curtos não parava de anotar naquele caderninho laranja, virou seu olhar para mim, ajeitando os óculos, perguntando sorridente. 
- Então você gosta de música... Seu sonho era ser vendedora desde criança? Queria ser isso em relação à música? 
Ela deu uma pequena risada, olhei em seu crachá, ela se chamava Clair, bom, ela tinha me pego de surpresa, nem tanto, pois eu esperava de tudo para essa entrevista, mas mesmo assim... 
- Não, Clair, Eu queria ser cantora, mas acho que no caminho não tive tantas chances ou... Não sei, mas eu achei que seria bom trabalhar aqui, sabe? Mesmo que não seja no ramo que desejo, posso ficar perto da música de qualquer maneira. 
- Você sabe que muitos cantores começam com coisas pequenas até chegar ao topo não é? Ninguém faz sucesso de um dia para o outro, minha querida. 
Ela sorriu para mim, meu coração bateu mais forte com essas palavras, eu sentia alguma coisa naquele lugar que... Não sei, era tão estranho. 
- Sim, eu espero que um dia eu consiga chegar a esse topo. 
Disse, cruzando as mãos em cima da mesa. Clair, em um simples ato, colocou sua mão em cima da minha, sorrindo. 
- Eu já tive sonhos e sei como é. Um eu consegui tornar realidade, que foi construir minha própria loja, ainda estou trabalhando no meu próximo sonho. Mas sei que um dia, se você lutar muito por isso, você vai conseguir, com as escolhas certas. 
Fiquei boquiaberta por alguns, poucos, segundos e logo sorri de volta para ela. 
- Clair, eu realmente espero que possa realizar esse seu sonho, assim como quero que o meu se realize. 
Ela fez que sim com a cabeça e colocou os óculos novamente. 
- Tudo bem, pode ir, querida. 
Levantei-me, indo para fora da loja. Senti o celular vibrar no meu bolso. Megan e Suri não me deixam em paz, senhor? Bufei deixando vibrar, continuei andando. 
O barulho do celular tocando me irritou, peguei meu telefone e praticamente gritei, fazendo algumas pessoas na rua me olharem. 
- Alô?! 
- PORRA, S/N, CADÊ VOCÊ? 
Era uma Megan no outro lado da linha que eu não gostava muito. Ela já estava estressada. 
- Você já devia estar aqui faz quarenta minutos! 
Meg do meu coração, se acalma, a garota estava numa entrevista, talvez tenha perdido a noção da hora. 
Ouvi Suri falar com minha irmã, sorri, ela sempre tentando me proteger da minha irmã malvada. 
- Quieta, Suri, eu tô muito irritada hoje porque certa pessoa ficou olhando os homens bonitos na rua e nos atrasou para a entrevista no estúdio não é? 
Eu ouvi um ‘desculpa’ vindo de Suri e gargalhei, essa minha amiga não muda? 
- Se acalma aí, Meg, que eu já tô chegando, ok? 
Demorei uns 5 minutos para achar um táxi dessa vez. Ainda bem, porque eu não ia aguentar ficar andando por aí, meus pés já doíam e estava começando a ficar frio demais. 
Entrei no táxi e fiquei olhando as ruas pela janela, o vento frio batia em meu rosto, esvoaçando meu cabelo e me fazendo ter pequenos arrepios, mesmo estando frio, era tão bom sentir aquilo... Quando eu chegasse em casa a primeira coisa que iria fazer seria comer, tomar um bom banho, depois ir para minha cama! 

Em pouco tempo eu já estava em frente ao restaurante. Pela enorme janela já dava pra ver as garotas. Suri se virou para rua enquanto estava atravessando e cutucou Meg, que virou e fez aquela cara de ‘entra aqui logo antes que eu te mate’ e eu fiz exatamente isso. Me sinto até insegura quando uma delas está de TPM, eu tranco até a porta do meu quarto. Da última vez que deixei a porta aberta, Suri entrou com um travesseiro na mão me perguntando quem tinha comido a última barra de chocolate, resultou em uma guerra de travesseiros e nós duas totalmente descabeladas. Well... 
Me sentei na cadeira olhando para as duas, que me encaravam furiosas. 
- Posso saber por onde andou, moça? 
Megan perguntou, batendo o pé por debaixo da mesa, eu entendo que ela esteja assim. Ela tem que cuidar de mim, né, mas ela também chegava atrasada às vezes, e aconteceu que eu perdi um pouco de tempo tentando achar aquele maldito táxi, e depois tiveram uns imprevistos, whatever... 
- É que, assim, Meg... Aconteceram uns imprevistos no meio do caminho e... 
Disse mexendo no cabelo quando Suri me interrompeu. 
- Eu conheço essa cara, fofoca, fofoca, conta tudo agora. 
Ela falou, parecendo a maníaca do parque me olhando da forma mais interessada e assustadora que só ela sabia. Eu e Megan caímos na gargalhada, OMG se ela não fosse minha amiga desde sempre eu ficaria muito, muito assustada mesmo. 
- É sério, S/A, eu quero saber, poxa! 
- Tá bom, tá bom, Sureta. 
Contei tudo para elas, que agora estavam ali na minha frente boquiabertas. 
- Ei, Terra chamando Megan e Suri... 
Balancei a mão na frente das duas, que ainda não paravam de olhar pra mim de boca aberta, até que fiquei impaciente. - Garotas! 
Bati na mesa, chamando um pouco de atenção, mas tirando as duas do transe. 
- Ai, S/N, para de ser escandalosa, só estava processando isso. 
Revirei os olhos e tomei um gole do cappuccino que havia pedido. 
- Espera um minutinho aí, o nome dele era Liam Li? 
Fiz que sim com a cabeça, Meg e Sureta se entreolharam e falaram juntas. 
- Do One Direction? 
Eu fiquei parada por alguns momentos olhando para as duas. Agora que a ficha tinha caído, aquelas malucas atrás do carro eram suas fãs, assim como aquelas em frente da loja. E aquela conversa toda de cantora no táxi e, espera um pouquinho, não foi a musica deles que eu cantei no carro? Por isso ele sorria e me perguntava o tempo todo se eu conhecia ele. 
Dei um tapa na minha testa, devia ter parecido uma completa idiota para ele! 
- OMG, S/N, sua sortuda. Queria eu ter conhecido o gostoso do Liam Li, olha essas fotos, gente. 
Ela estava com os olhos grudados na tela do computador, agora vendo as fotos dele no Google. A única coisa que eu via ali era ele com os outros integrantes da banda e as fãs, que por sinal eram perfeitas. Então por que ele se interessaria por uma garota como eu? 
- Cala a boca, Megan, deixa a garota processar as informações. 
Suri falou olhando as fotos também, até que eu senti meu celular vibrando. ‘Liam Li started following you’. Fiquei boquiaberta, quantas surpresas eu posso ter no dia e não morrer? 
- Manda uma DM para ele! 
Suri falou um pouco alto demais atrás de mim, o que me fez ter pequenos arrepios. Era assim sempre que eu me assustava. 
- PORRA! Quer me matar de susto agora é só falar, chega atrás de mim que nem um defunto. 
Falei meio alterada, com a mão no peito tentando controlar meus batimentos cardíacos. Lá estava eu, encarando o celular sem saber o que fazer. ‘Que coisa, S/N, ele é só um garoto comum, com várias fãs malucas e assassinas.’ É, eu sabia bem como era essa coisa toda, até por que eu já fui assim. 
Mordi meu lábio, que já estava vermelho de tanto que eu mordia. Quando eu estava com ele, parecia tudo tão normal... Não tinha porque eu ficar assim agora, não é? Quando eu finalmente tomei coragem para mandar, eu já tinha recebido uma DM, cliquei para vê-la. 

‘Hey, ladra de táxis, achei seu twitter x.’ 

Eu ri um pouco, me sentando outra vez do lado de Sureta no sofazinho do restaurante, jogando minha bolsa de lado. Olhando as letrinhas brilhando no celular, respondi normalmente. 

‘É, fiquei surpresa quando vi. E o táxi era meu, baby’ 

- Garotas, não é melhor irmos logo para casa? Já está ficando escuro. 
Perguntei, guardando o celular no bolso, vendo que elas já estavam acabando de beber seus cafés. 
-É, vamos nessa, Meg? 
Suri disse, já se levantando junto comigo. Megan nos olhou e fechou o notebook, nos acompanhando para pagar a conta. 

Após isso fomos a pé para casa, eu queria sentir um pouco de Londres, sem pressa, só sentir aquela liberdade toda. Daqui a quatro semanas eu ia começar a faculdade sozinha, pois Suri e Megan iam trancar um ano. Eu queria fazer isso logo, começar na faculdade de música e belas artes aqui de Londres. 
Teria que me esforçar mais que os outros porque eu entrei com uma bolsa, mas sei que tenho talento suficiente para isso. Desde pequena eu comecei a cantar e minha mãe sempre falava que eu tinha futuro nesse ramo, sempre me apoiando, pagando cursos para eu melhorar cada vez mais, participei do coral da escola, mas não ficava muito tempo em um lugar só, ela se mudava muitas vezes. E, bom, meu pai nunca esteve tão presente, estava sempre viajando a negócios, arrumando novos artistas de sucesso e dizendo que eu era um talento bruto, ia brilhar por alguns anos e depois minha estrela ia se apagar. Ele era um empresário famoso e seus artistas seriam conhecidos por toda a vida por serem tão bons, ele sempre encontrava uma estrela, seja na rua, em bares... Mas sempre achava. 
Meus pais se separaram quando eu tinha só três anos de idade, então nunca tive dificuldade em vê-los longe, mas eu fiquei com minha mãe, Megan ficou um tempo com meu pai enquanto ele morava em Paris, praticando sua dança. Ela era a mais velha, sempre segura do que fazia e de onde queria chegar. Eu sentia que meu pai sempre a apoiava, pois via o sucesso nos olhos da filha mais velha, enquanto eu, bom, eu sempre com meus sonhos. Mas eu nunca desisti, fiz uma audição para uma gravadora quando tinha meus 15 anos, eles falaram que não era o que eles estavam procurando e que eu era muito jovem para fazer o sucesso que eles queriam. 
Mas isso não foi o suficiente para me fazer desistir, eu até agora estou tentando, toquei no casamento da minha prima, fiz shows em bares, mas falta alguma coisa ainda que eu não entendi direito, eu tenho o talento, mas falta algo mais... Mas o quê? 

Alguma coisa esbarrou em mim de leve, eu apenas segurei para que não caísse junto com a pessoa, essa pequena pessoinha me olhou com os olhos marejados, era um garotinho de cabelos castanhos bagunçados e enormes olhos azuis. Dei um sorriso doce para ele e me agachei para ficar do mesmo tamanho que ele. Parecia confuso... 
- Desculpa, moça, não vi você na minha frente. 
- Não tem problema, mas... 
Olhei em volta para achar quem estava com ele. Ninguém estava por perto. 
- Quem está com você, pequeno? 
Perguntei o olhando. 
- É... Que... Eu me perdi do meu pai, será que você pode me ajudar a encontrá-lo? 
Ele perguntou meio inseguro, o que fez meu coração se apertar, aquela criança estava perdida sendo que já estava anoitecendo? Aqui pode ser Londres, mas também tinha sua cota de perigo. Mas como eu ia achar o pai dele? Fiquei de pé outra vez, pegando em sua mão e sorrindo abertamente. 
- Como é seu pai, meu amor? 
As garotas que estavam um pouco mais a frente se viraram e olharam para a gente com um enorme ponto de interrogação no rosto. Fiz uma careta e dei de ombros, é claro que eu ia ajudá-lo, elas vieram em nossa direção. 
- Ele é alto e tem o cabelo meio grisalho, e tá de terno. 
Mordi meu lábio, já ficando meio nervosa, quantos caras de terno e cabelo grisalho andavam por essas ruas? É, muitos. Alguns voltando do trabalho, outros indo para o trabalho e alguns procurando seus filhos perdidos, porque são bem responsáveis... 
- O que aconteceu? 
Meg perguntou, olhando para o garotinho. 
- Me perdi do meu pai. 
Ele fez uma cara de choro que me lembrava muito alguém, só não sabia quem ainda, me virei para Meg, que também olhou para mim. Parece que ela também percebeu isso. 
- Onde você o viu da última vez? 
Esse garotinho devia ter uns 5 ou 6 anos de idade. A criança franziu a testa e novamente me deu uma sensação de dejavú. 
- Foi no parque, nós estávamos passeando e ele estava falando no celular, e eu fui brincar com o cachorro e não vi mais ele depois disso. 
Ele estava com cara de que iria chorar a qualquer momento, o peguei no colo. O próprio se agarrou no meu pescoço, fungando, olhei preocupada para as meninas. 
S/N, nós temos que arrumar as coisas no apartamento ainda hoje. 
Suri falou calma, me olhando agoniada. Antes que eu pudesse responder alguma coisa, Megan disse: 
- Então vai você por enquanto, que eu e a S/N vamos procurar o pai do garotinho tá? 
Sureta fez que sim com a cabeça e foi com a gente para fora da loja, se despediu e pegou um caminho oposto ao nosso. Como eu queria minha cama quentinha agora... Já estava escuro, olhei no relógio, que marcava 18:54. 
- Ei, moça, qual é o seu nome? 
Perguntou o menino, coçando o olho, que fofinho. Dei um sorriso e respondi. 
S/N S/S Carrick, e você, hein? Como se chama? 
Ele me olhou com os olhinhos brilhando. 
- Também tenho Carrick! Me chamo Adrian Scott Carrick. 
Disse ele, tentando parecer animado, mas estava realmente cansado, deitando sua cabeça em meu ombro. 
Só eu acho que meu raciocínio hoje estava muito devagar? Ok, vamos rever as coisas, ele tinha perdido o pai... O sobrenome dele era Carrick assim como o do meu pai. Ele disse que estava usando terno e falando ao telefone, eu só lembro de meu pai com aquelas conversas chatas que nunca tinham fim naquele maldito celular e ele também vivia de terno, nunca parava de trabalhar... Agora eu me lembrei de quem ele me lembrava! Mas será...? 
Andando pelo parque, puxei Megan mais para perto. 
- Cara, nosso pai está morando onde mesmo? 
- Eu estava pensando a mesma coisa, da última vez que nos falamos, ele falou onde estava morando, só não lembro muito bem. 
Revirei os olhos, Megan sempre esquecida, só não esquecia dos passos de dança né. 
- Tenta se lembrar... 
Eu disse e ela se virou, olhando o gramado do parque. Segundos depois, ela virou para mim e, quando estava prestes a falar, Adrian gritou. 
- Ele tá ali, ele tá ali! 
O coloquei no chão e me virei para dar de cara com nada mais nada menos que: meu pai. 

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